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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Por uma Teologia de Vida

Por Robinson Cavalcanti

Nas últimas décadas os evangélicos têm se especializado na “arte de bem morrer”. As mensagens de nossos púlpitos se ocupam maiormente do “destino da alma”, para onde vamos após a morte, a necessidade de se estar em paz na hora de morrer, prontos para o Grande Tribunal. Pregamos sobre o Céu e o Inferno, sobre a não existência de outros lugares de destino, sobre as diversas teorias sobre o “estado intermediário”.

O que fazer entre a conversão e a morte?

A vida não começaria aqui e agora, vindo à eternidade como decorrência, como “bonificação da casa”? Cristo não veio para nos trazer vida, e vida em abundância? Ao lado de uma arte cristã do “bem morrer”, não haveria uma arte cristã do “bem viver”? A coisa toda não está nos equívocos que cometemos sobre o conceito de “mundo” e “mundanismo”? Não nos falta uma reflexão sobre o plano de Deus para a terra e para a História?
A questão central não está na ausência de uma reflexão sobre o Reino de Deus e suas possibilidades históricas, bem como sobre o papel da Igreja nesse testemunho-construção?
Os equívocos teológicos anteriores nos conduzem à apatia, à falta de perspectiva, à falta de respostas às questões temporais, à indiferença, à insensibilidade, à irresponsabilidade, ao individualismo, à rotina, ao embotamento de mentes.
Temos nos caracterizado pela ausência, pela não-influência, pela irrelevância.
Não estaria na hora, em obediência ao Espírito, segundo as Escrituras, de trocarmos a ausência pela presença, mantida a identidade, pela influência, pela relevância?
O mundo pergunta. Nós temos a resposta na Bíblia e na experiência histórica da Igreja. Temos que conhecer as perguntas-problemas e as respostas, divulgando-as, vivenciando-as, implementando-as.
O mundo gostaria de saber para que serve um cristão, além de bancar o “bonzinho” e esperar para morrer.
Muitos cristãos vivem uma dicotomia, uma esquizofrenia existencial: cristãos quanto ao “eterno e ao espiritual”, e secular, quanto as respostas para o cotidiano, segundo o que propõe o século. Temos que denunciar o boicote das editoras evangélicas que não publicam as obras que tratam da vida. Todo acervo histórico da experiência cristã e escondido de nossa geração.
Carecemos de uma Teologia do Corpo, que recupere a integralidade do ser humano, incluindo sua dimensão material, o valor cristão da saúde, da alimentação, da cultura física, da harmonia, da estética.
Carecemos de uma Teologia da Sexualidade, de caráter não-permissivo, com uma aceitação, um conhecimento, uma vivência isenta de culpas patológicas, quando as tradições são confundidas com os ensinamentos bíblicos. Sexualidade como felicidade.
Carecemos de uma Teologia do Lazer. O cristão tem que aprender a repousar sem sentimento de culpa, de que está “perdendo tempo”. Como se divertir? Como contemplar a natureza? O que fazer em termos de “higiene mental”?
Carecemos de uma Teologia da Cultura, para que sejamos cristãos, mantendo a nossa identidade nacional, o nosso caráter peculiar que nos liga à nossa gente, nem sacralizando nem rejeitando a cultura. O que manter do folclore? Como estar presente no campo das artes?
Carecemos de uma Teologia Política, com o sentido de nossa vida em comunidade, da ocupação de nossos espaços, da nossa resposta frente as questões sociais, econômicas e frente a questão do poder.
Carecemos de uma Teologia Ecológica, que reflexione sobre uma moral para a criação, a terra que o Senhor nos deu para cuidar.
Carecemos de uma Teologia das Relações Internacionais, que propugne a verdadeira paz entre as gentes, como fruto da justiça.
Carecemos enfim, de reflexões teológicas que tomem como tema a vida, o ser humano concreto e suas relações, buscando compreender a Deus e compreender a vontade de Deus.
Presença como sal e luz, presença com diferença, presença com influência, presença com os valores do Reino.
As gerações jovens estão ansiosas por uma alternativa cristã de vida, querem viver, querem testemunhar a vida, querem transmitir a vida.
O país está olhando para nós nessa época de transição. Vamos virar-lhes as costas, recolhidos aos nossos “ninhos”, ou vamos ser os olhos, os braços, as pernas, o coração de um Deus de amor?
Um rosto alegre pela certeza do perdão de Deus. Um semblante compassivo para o drama humano.
Vivos e canais de vida.

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