Por Robinson Cavalcanti
Os protestantes continuam crescendo... com a medicina pública caindo aos pedaços e a medicina privada crucificando os seus associados com cruzes douradas, as agências de curas divinas continuam a atrair multidões de doentes do corpo e da mente, desempregados, subnutridos, abandonados. É o crescimento pelo “curandeirismo cristão”, em concorrência com a umbanda e as romarias aos santuários católicos-romanos.
O crescimento protestante prossegue... com a pequena burguesia fugindo da aridez, do horizontalismo, dos desafios, dos compromissos e da indução a consciência culpada provocadas pela Teologia da Libertação, com a Santa Madre trocada pelas promessas de prosperidade (converta-se e fique rico), pelas igrejas clubes monoclassistas e pelas pastorais familiares moralistas. É o crescimento pela paz interior diante do caos exterior e pela aprovação da desigualdade, desde que se esteja do lado de cima.
Há os que têm medo do inferno, há os que admiram o Tio Sam, há os que casam com jovens crentes... e haja crescimento.
Reconciliam-se com os arquétipos arcaicos, curte-se o superego, acomoda-se diante da luta da vida, explica-se o que nos funde a cuca. A Tradição é mantida, a propriedade acrescida e a família controla para o Estado os candidatos a heróis revolucionários ou mártires. A santidade é para fora das contradições sociais e para dentro da reprodução dos sistemas. Bons moços esses protestantes, subservientes e inofensivos. Uma “benção” para os dominadores.
Crescimento? Será que assim podemos considerar essa massa fragmentada, atomizada, amorfa, sem identidade e sem projeto?
Protestantes? Os que não sabem se Lutero joga no Corinthians ou se Calvino é um destaque da Beija-Flor de Nilópolis? Protestantes? Os que nunca leram (nem lerão) as Confissões de Fé históricas e não tem a mais vaga noção da Gênese, do espírito e da caminhada histórica da Reforma do século XVI? Protestantes? Os que não sabem se o Dr. Kalley é um cirurgião plástico de Copacabana, se Simonton é professor de Economia ou se Salomão Guinsburg é um comerciante judeu da rua do Ouvidor?
Protestantes? Talvez. Afinal essa vertente “confederada” ou “vitoriana” é a expressão mais estéril desse movimento religioso e por mais oposta que seja a proposta original, não deixa de estar debaixo do imenso guarda-chuva reformado.
Deve-se reconhecer a criatividade e o espírito de livre-empresa dos nativos (especialmente no sudeste), com a criação a cada dia de novas e exóticas denominações. Outras apenas congelam a forma que receberam dos missionários. E o Brasil continuará sempre o mesmo, seja qual for o número de protestantes dentro de suas fronteiras, seja qual for o grau do seu triunfalismo.
O ex-protestante (batista) Gilberto Freyre comentando a desordenada explosão demográfica da capital pernambucana (com 50% de favelados) disse: “Recife não é uma cidade crescida, é uma cidade inchada”.
Não estaríamos diante de uma inchação de protestantes?
Não teria razão um sociólogo mexicano, quando afirma que a multiplicidade das igrejas evangélicas em nosso continente não significa um crescimento do protestantismo, mas de um catolicismo de substituição? Não seriam esses “protestantes” os mais puros herdeiros da cosmovisão católica-romana medieval, pré-moderna, pré-democrática e repressora da sexualidade?
Crescendo na política
Como se pode crescer na Política quando se nega o presente do mundo e se curte as hipóteses do seu futuro fim; quando se nega este mundo e se anseia pelo outro mundo; quando se nega a vida e valoriza a morte?
Como se pode crescer na Política quando o Reino de Deus é apenas para o recôndito da alma e não para a História; quando o pecado é apenas individual e não social?
Talvez cresça a admiração do passado ou do futuro e a glorificação das pátrias dos missionários como mais acordes com a pátria celestial.
Cresce a santificação do capitalismo e a concentração da propriedade, renda e poder (com os eleitos à frente e por cima).
Cresce o constantinismo, com a aliança a qualquer preço com qualquer detentor do poder.
Cresce o neo-franciscanismo, com a troca de favores por votos com quem tem favores para trocar.
É... alguma coisa está crescendo. Cresce a experiência da esperteza. Sem unidade e sem projeto histórico, não se sabe onde está e nem para onde se quer ir. Os “espíritos da corrupção” são ardentemente exorcizados pelos que votam nos partidos da corrupção.
A massa protestante não é muito chegada à militância sindical, à militância partidária, à militância comunitária, a militância dos grandes movimentos e causas da sociedade civil em defesa dos direitos humanos, da vida, da paz.
Sem um bom pretexto (como a liberdade religiosa ameaçada), sem uma nova Constituição para redigir e com a performance da legislatura passada, não deu para expandir a bancada evangélica no Congresso Nacional, antes deu para encolher. Ao contrário do que muita gente pensava, não houve qualquer explosão de vereadores, deputados ou senadores evangélicos, muito menos de prefeitos e nem falar em governadores. Em todos esses setores da vida pública, continuamos muito abaixo da média de nossa população secular.
Cresceremos no futuro?
Cresceremos em que direção? Crescerão os alienados e os desinformados? Crescerão os indiferentes e os descompromissados? Crescerão os interesseiros e os corruptos? Crescerão os conservadores e os direitistas? Crescerão os progressistas e os engajados?
Muito vai depender das propostas teológicas: o Neo-fundamentalismo, a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral da Igreja (Holística).
Não sou pessimista, mas realista. Mantida a abertura democrática, mantida livre a imprensa e a liberdade de reunião, mantidos abertos os partidos e os sindicatos, inevitavelmente os protestantes serão afetados.
A crescentes sinais de esperança, em consciências individuais e em maiorias proféticas, comprometidas com a Liberdade e a Justiça. A Palavra de Deus está aberta, o Espírito continua a soprar apesar da teimosia e do “espírito de Jonas” desse povo com tanto potencial.
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