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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O REINO UNIVERSAL DA IGREJA

Marcos Monteiro

As denúncias contra a Igreja Universal do Reino de Deus não devem ser examinadas como um fator isolado do conjunto das relações complexas entre dinheiro, poder e religião. Sua ascensão política e econômica estaria, então, associada à ascensão do ramo neo-pentecostal (ou pós-pentecostal, como querem alguns), dentro do fenômeno do pentecostalismo, parte mais recente do evangelicalismo, de tradição protestante, na igreja cristã, que é hegemônica, enquanto religião ocidental. A ligação entre protestantismo e capitalismo já teria sido sugerida por Max Weber, especialmente, na sua forma calvinista, onde ética religiosa e ética capitalista se aproximavam e, algumas vezes, até se confundiam.

O crescimento da IURD, como se costumou chamá-la, é fenômeno de mercado religioso, em um segmento onde o crescimento é a marca natural, o chamado pós-pentecostalismo, ramo da igreja protestante que mais cresce atualmente, sucedendo outros crescimentos, como o próprio pentecostalismo em sua vertente mais tradicional, originada nos começos do século XX. Como fenômeno, tem sido objeto de estudos sociológicos, psicológicos e antropológicos, tentando-se detectar vínculos e variáveis responsáveis pelos seus processos.

Como fenômeno situado, interconectado com outros, os seus vícios e virtudes podem ser entendidos como ampliação, conjugação, complementação, radicalização de outros, referentes à religião, de modo geral, ao cristianismo em particular, de modo especial ao protestantismo. Porque teologicamente, a Universal não inventou nada e a comercialização da fé, olhada mais acuradamente, seria prática comum, observada com mais ou menos competência, em praticamente toda comunidade cristã e talvez toda comunidade religiosa.

Sendo o dinheiro, mercadoria universal de troca, teria a capacidade de materializar mercadorias imateriais, de tanger o intangível, concretizar o abstrato, efemerizar o eterno. O comércio religioso é o comércio sobre a infinitude do desejo e nisso a IURD tornou-se perita, aproveitando um pouco da prática de cada tradição religiosa, inclusive das tradições que ataca, como o universo mítico-mágico das religiões afro-brasileiras. O dinheiro materializa e quantifica a fé de cada pessoa que investe na realização de cada um dos seus sonhos. Nesse sentido a gigantesca estrutura montada pela igreja é apenas mais uma demonstração da sua verdade prática e os testemunhos de crescimento pessoal atestam aquilo que já sabemos e que todas as religiões repetem: a funcionalidade da fé.

Capitalista e funcionalista, como todas as agremiações religiosas, talvez a IURD tenha sido mais voraz e mais ambiciosa do que as outras. E Mamom talvez não goste também de Torres de Babel. Levando a teologia da retribuição a extremos paroxistas, adaptando-se ao narcisismo dos novos tempos, utilizando um marketing agressivo, a Universal transforma em hipérbole a maior ironia do cristianismo: a transformações do camponês, místico, profeta e revolucionário, Jesus de Nazaré, pobre e crítico radical da riqueza, em mercadoria de consumo, caminho para a prosperidade pessoal e sacerdote de estruturas injustas.

É possível e até provável que escape da devassa promovida contra si, e até contabilize essa nova onda, perante seus fiéis, como prova de fidelidade, utilizando convenientemente a teologia da perseguição. Se isso não acontecer, talvez fosse interessante ampliar as apurações sobre o universo religioso, de modo geral, e estabelecer formas de controle que impedissem a exploração da fé, especialmente das pessoas mais pobres.

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