Por Marcos Monteiro
Jo 7.53 – 8,11
Nossos textos sagrados são belos quando nos convidam a caminhar e nos propõem caminhos. Às vezes, porém, se tornam pesados blocos de pedra a nos impedir os passos. Como caminhar com os textos ou onde escrever os textos é questão fundamental de nossa peregrinação cristã.
Essa narrativa do evangelho de João foi acrescentada depois. Lembramos que os textos têm vida própria e antes de serem escritos viveram como fala, linguagem oral, na vivência das comunidades. Depois, se tornam grande blocos organizados à disposição dos caminhantes e da vida. Esse texto, portanto, é texto atrevido que desarruma e rearruma, porque a vida é assim mesmo, surpreendente e atrevida.
Os escribas e fariseus trazem para Jesus, no Monte das Oliveiras, em uma mão mulher flagrada em adultério, na outra mão o texto escrito por Deus, há tanto tempo, em outro monte. O texto trazido é texto de pedra e texto que manda apedrejar. Jesus, em silêncio, resolve escrever outro texto.
O tema dos dois textos é a sexualidade, tão complexa e cheia de nuances, e tão ameaçadora em sua imprevisibilidade que a instituição prefere tratar a pedradas. A mulher tachada rapidamente de adúltera pela lei da pedra é, provavelmente, uma mulher apaixonada, vivendo amores clandestinos para os quais não existem fácil solução e todo o mundo sabe.
O dedo de Deus escrevera um texto de pedra em um monte, acima do cotidiano dos mortais, o dedo de Jesus escreve um texto de areia no chão da vida. Texto tão leve e tão provisório que não sabemos do que se tratava. O que ele diz depois pode muito bem ser escrito assim:
– “Aquele que não tiver pecado atire o primeiro texto” – e precisamos aprender sobre textos com Jesus.
Os textos oficiais, “divinos”, já estão escritos para sempre na pedra. Os textos da graça de Jesus estão sendo escritos e re-escritos na areia. Os textos de pedra são jogados pelos “policiais de Deus” sobre as nossas cabeças. Os textos da areia são soprados pelo Vento de Deus e espalhados graciosamente pela vida do povo.
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