Marcos Monteiro
Mateus 5, 4
“Felizes os que choram porque serão consolados”.
Os caminhos da vida apontados por Jesus são caminhos estranhos.
Ser feliz chorando parece uma dissonância. Manter o coração úmido e o olhar disposto às lágrimas não parece ser melhor do que aprender a se endurecer diante da dor e do sofrimento.
Mas, aprender a chorar, como caminhante que desce da montanha sagrada, é descobrir que a dor tem lado e se dispor a ficar do lado de quem chora e não de quem faz chorar.
Chorar a dor do outro é passo no caminho da solidariedade. Teimar em ser sensível é não se acomodar nem se alienar diante da dor da vida e da estrutura de dor montada pela sociedade desumana.
Chorar, então, passa a ser suspiro de humanidade, vigilância de corpo e consciência para que nunca se petrifiquem.
Entretanto, é preciso chorar também a nossa própria dor e a dor que causamos. Somos seres doloridos que fabricamos dores.
Deixar as águas da impotência e do arrependimento irromperem como lágrimas é sempre lavar os canais de comunicação para o mistério dos nossos sofrimentos mais profundos.
Porque não somos apenas prazer e alegria, mas também dores. E as dores que levamos e as dores que somos também precisam ser lavadas pelas lágrimas.
Os que choram serão consolados. Não é o choro que traz a felicidade, mas a consolação do Pai, à espreita apenas de quem tem a coragem de chorar.
Jesus chorou, diz o evangelho de João, diante da morte do amigo. Na nossa herança cristã, um Deus que é homem é um Deus que chora e entende a importância das lágrimas e da consolação.
Os caminhos para a totalidade e exuberância da vida passam pelas trilhas e abismos do sofrimento humano e humanizador.
Precisamos experimentar, no profundo mistério de um olhar que explode em lágrimas, pela força de um corpo que sangra até a morte, o mistério cotidiano de uma consolação e de uma ressurreição.
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