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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Subindo a montanha sagrada

Por Marcos Monteiro


Mateus 5, 1-2


“Vendo Jesus as multidões subiu ao monte, e como se assentasse, aproximaram-se dele os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo:”


Os montes nos fascinam: desafiam os nossos limites e oferecem espaços de contemplação.


Em uma cadeia de sedução, os montes atraem Jesus, o carpinteiro aprendiz de profeta, que atrai seus estranhos seguidores, que atraem uma estranha multidão de proscritos.


Subindo o monte, Jesus se aproxima dos céus sem deixar de pisar o chão, e se assenta, como um rabino, desalojando simbolicamente os escribas e fariseus, os quais tentavam desalojar “a lei e os profetas” (como vai pronunciar algum dia).


Os montes ampliam a nossa visão e o profeta carpinteiro se torna mestre, trazendo lições do Pai e lições da vida.


As montanhas são sagradas, mas quando Jesus nos leva para o alto, soprando em nossa alma a Brisa de Deus, nos mostra os caminhos da volta, os caminhos para o chão da vida cotidiana, que podem ser caminhos de felicidade.


Mas sua receita de felicidade é estranha: felizes são os que têm coração de pobre, sabem chorar de dor, não são violentos, comem e bebem justiça, sabem parir, desejam intensamente a vida, constroem relações justas, mesmo quando sofrem toda a oposição dos injustos.


Abrindo a sua boca, Jesus partilha o mais íntimo de sua alma, segredos e vivências aprendidos no mistério da contemplação do Pai e da partilha de vida pelas pequenas aldeias da Galiléia.


Lugar que não era bem lugar, de povo que não era bem povo. Felicidade tem tempo e tem espaço, história e geografia, e passa pelo corpo.


A história e a geografia da felicidade é hora e lugar do oprimido e o corpo torturado do proscrito (homens, mulheres, crianças, pobres, pecadores, discriminados) é o barro da nova sociedade que surge como palavra de ordem e grito de guerra: “Reino de Deus”.


O governo de Deus não passa nem pelo templo, nem pelo palácio, e não requisita o corpo atlético dos opressores.


O governo de Deus desce do monte para a vida, pelos caminhos percorridos pelos corpos explorados e torturados das vítimas da religião e vítimas do Império.

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