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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Caminhando pelo útero de Deus

Por Marcos Monteiro

Mateus 5,7


“Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”.



O caminho da misericórdia segue o da justiça porque ambos devem estar juntos. Misericórdia e justiça se completam.


A misericórdia define um modo de ser de Deus e a palavra é derivada da idéia de útero. Dizer que Deus é misericordioso é como se referir a um Deus com útero, acolhendo o disforme e lhe dando vida.


A justiça é fálica e o falo fertiliza o útero, mas somente quando ereto. A ereção acontece apenas em poucos momentos: a justiça é essa impossibilidade que somente pode ser desejada, já que sustentada por pouco tempo.


A sociedade androcêntrica e patriarcal está condenada à falência; somente através do útero da misericórdia o mundo melhor e mais justo pode ser construído. Masculino e feminino se unem no útero de um Deus que ultrapassa os limites da sexualidade humana.


Descer a montanha pelo caminho da misericórdia é caminhar pelas entranhas uterinas de um Pai que é Mãe.


Ser misericordioso como o Pai é aprender a usar o útero, para as mulheres, ou a ter um útero, para os homens, disponível para o acolhimento dos empobrecidos, dos fracos, das exploradas e dos oprimidos, o resíduo disforme das estruturas sociais.


Parir a justiça é o processo da misericórdia, útero que transforma em vida aquilo que antes era apenas esboço.


Um Deus misericordioso é um Deus cujo coração bate mais forte diante da fraqueza do outro. Proscritos, discriminadas, deserdadas, excluídos, todas as vítimas da sociedade, são acolhidas na interioridade desse Deus que tem lado: o lado do mais fraco.


Os que tratam os outros com misericórdia serão tratados com misericórdia. Serão acolhidos e acolhidas no útero de Deus e estarão sendo transformados e transformadas em seres cada vez mais humanos.


O segredo da nossa transformação em seres humanos está nesse outro e outra desumanizados. Quando tratamos o outro com misericórdia, somos tratados com misericórdia. A fraqueza e sofrimento do outro é o espelho em que visualizamos a nossa própria fraqueza.


Desse modo, acontece um mistério. Quando parimos o outro somos paridos também.


A misericórdia é o caminho através do qual engravidamos de nós mesmos, dando forma plena à nossa humanidade.

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