log

log

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Por uma Cristologia Evangelizadora

Orlando Costas

A Cristologia de Orlando Henrique Costas , explicitada em sua Teologia Contextual da Evangelização, parte de uma concepção protestante-evangelica, a partir de um contexto latino-americano.
Em seus escritos ele aponta Jesus Cristo como a boa nova anunciada pela Igreja em missão no mundo. Cristo também é o conteúdo do kerigma neotestamentário, o que faz com que a cristologia resulte necessariamente em soteriologia, pois não há como pensar a Cristo sem considerar a salvação por ele providenciada. Sua obra salvadora, realizada através da encarnação, morte, ressurreição e ascensão é que possibilita aos homens e mulheres a verdadeira libertação, entendida não somente na perspectiva sócio-política, mas integral, a partir da compreensão do homem como um todo e que está no mundo fazendo parte de uma rede de relações que o afetam e são afetadas por ele. Para Costas a libertação se dá principalmente em relação ao pecado humano, que é também abrangente. Sobre isto ele afirmou: “o pecado... não só é violência contra o próximo, mas é violência contra si mesmo. Traz a conseqüência da alienação total do homem de seu próximo, da criação, do Criador e de si mesmo”, o que torna necessário uma salvação integral, amplamente libertadora.
Para que isto seja possível, é preciso pensar em uma cristologia também integradora, que considere a pessoa de Jesus Cristo em conjunto com sua obra. Para Costas “Uma dicotomia entre a obra e a pessoa de Cristo compromete a autoridade e efetividade evangelizadora do feito de Cristo” . É preciso considerar a Cristo também de forma integral e que sua obra alcança a todos em todos os aspectos e a tudo neste mundo.
Uma cristologia integral terá como ponto de partida a encarnação de Cristo em sua presença e obra histórica no mundo. Conceberá o fato “de que Deus se fez carne e habitou entre os homens (Jn. 1.14)” , muito mais que isto, incorporou-se a esta humanidade “A encarnação de Jesus aponta, pois, para sua necessária incorporação à humanidade pecadora” , mas o faz para salvar esta humanidade. Ele esclarece sobre isto:
Jesus se situa culturalmente, condicionado pelo tempo e o espaço. Não leva a cabo sua missão evangelizadora em primeira instância como o todo poderoso Filho de Deus, sim como pessoa enviada por Deus um um momento particular da história e em uma situação cultural específica. Se identifica com um povo concreto, fala sua língua e vê a realidade desde sua situação sócio-cultural”
A encarnação não possui um fim nela própria, mas encontra seu sentido em toda a obra de Cristo.
A morte de Jesus dá sentido à sua encarnação. Conforme Orlando Costas ela significa Redenção, ou seja, libertação humana de forma integral, envolvendo todos os aspectos da vida humana afetados de alguma maneira pelo pecado. A morte de Jesus significa também Oferta Substitutiva, onde o próprio Cristo é oferecido como propiciação pelo pecado da humanidade, à luz da tradição sacrificial do Antigo Testamento. Conforme Costas “O sangue vertido, símbolo de uma vida santa e imaculada, fez possível a saúde da humanidade,e por tanto, sua regeneração e transformação” . Mas, a cruz também é Reconciliação, onde todas as coisas são restauradas em Jesus Cristo, possibilitando a nós um relacionamento amoroso com Deus, conosco, com o próximo e com toda a criação.
Outro ponto a que remete a cristologia evangélica de Orlando Costas é a ressurreição como cumprimento e selo da cruz. É da ressurreição que conforme ele se desprende o poder reconciliador e redentor da cruz, tornando-se o ápice do kerigma cristológico. É por meio da ressurreição que a liberdade e a vida são restituídas aos homens, que delas já podem usufruir em sua vida no mundo, como antecipação da própria parousia.
A ascensão de Cristo aponta para a sua entronização, ministério intercessório, e ao mesmo tempo em que Jesus Cristo é o Deus encarnado, que se fez homem, é também o Cristo cósmico, que sustenta tudo e no qual tudo subsiste. Neste sentido, a mensagem evangelizadora é também a mensagem do senhorio de Jesus sobre todas as forças dominantes no mundo.
Mas, a cristologia da evangelização também remete para a escatologia. O Cristo que veio ao mundo inaugurando o tempo escatológico, do reino que já se faz presente, é também o Cristo que virá em cumprimento às suas próprias promessas. Nesta perspectiva, a evangelização além de confrontar o homem com o seu presente e a libertação que Cristo oferece em sua realidade histórica, confronta-o também com seu futuro e a necessidade da salvação numa perspectiva que vai além do seu tempo histórico.
A evangelização que surge desta cristologia é um convite à fé e a esperança em Jesus Cristo, bem como a perceber na vida os sinais concretos da presença e os efeitos da obra salvadora de Cristo, que terão na parousia a sua plenitude.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COSTAS, Orlando H. Evangelizacion Contextual. San José: Ed. Sebila, 1986.
________. Hacia Una Teologia de la Evangelizacion. Buenos Aires: Ed. La Aurora, 1973.
________. Proclamando a Cristo no Mundo dos Dois Terços In STEUERNAGEL, Valdir, A Serviço do Reino, Belo Horizonte: Missão Editora, 1992.

Nenhum comentário:

Postar um comentário