Jung Mo Sung
Não é novidade que a China está se tornando uma grande potência econômica. É um dos maiores consumidores de minérios, petróleo, energia e de matérias primas do mundo. Disputa com a Alemanha o título de país com o maior volume de exportação do mundo. E agora, se tornou o segundo país do mundo em número de bilionários. Ano passado eram 15 o número de pessoas com fortunas avaliadas acima de um bilhão de dólares, este ano pulou para 106. Um aumento de sete vezes de número de bilionários, em um país que ainda se considera comunista e a renda per capita é de mil dólares por ano.
É claro que este aumento do número de bilionários é também um sinal de concentração de renda no país. Segundo um relatório do Banco Asiático de Desenvolvimento, os vinte por cento mais ricos de uma população de 1,3 bilhões de pessoas consomem 11,4 vezes mais do que os vinte por cento mais pobres. Mesmo que não chegue ao nível absurdo de concentração de riqueza no Brasil, essa tendência na China é significativa. Com o aumento de bilionários e milionários, que também consomem como qualquer bilionário ou milionário do mundo capitalista, as importações de produtos de luxo têm aumentado significativamente. Desde 2006, a China é o terceiro maior mercado de consumo de produtos de luxo do mundo.
Esse país, que, nas décadas de 1960 e 70, serviu de modelo de socialismo para diversos movimentos e partidos revolucionários da A.L. e que foi também saudado por pessoas importantes do cristianismo de libertação latino-americano como alternativa para o nosso capitalismo, não se considera um país capitalista. O Partido Comunista Chinês detém ainda o poder político de uma forma centralizada e forte. O controle e a censura política continuam tão duros como antes; mas o fracasso dos modelos econômicos socialistas baseados no planejamento centralizado em superar a pobreza levou ao PC a implementar um novo modelo econômico. Sem entrar na discussão se o modelo chinês baseado na livre iniciativa e na inserção no mercado mundial é ou não uma economia capitalista em um regime político comunista, devemos reconhecer que ele está gerando riquezas e tirando milhões de chineses da condição de pobreza absoluta, mas também concentrações de renda e contradições sociais entre os novos ricos e a massa de trabalhadores e um gravíssimo problema ambiental.
Parece que não há muita diferença no desejo de consumo da nova classe média e alta chinesa em relação aos das classes médias e altas dos países capitalistas. A "cultura socialista" não foi ou não é capaz de coibir ou de diminuir os desejos de consumo de ostentação. Parece que há algo na condição humana que faz um rico consumidor de um país socialista ser muito parecido com um de país capitalista. Assim como, parece que há algo no ser humano que o faz querer manter a todo custo o poder ou sucesso ou privilégios adquiridos.
Diante de situações como essas, não basta criticarmos o capitalismo e também os países socialistas que "decaíram" na cultura "pequeno-burguesa" (como costumávamos dizer anos atrás). É preciso refletir com mais atenção o que passa no ser humano quando tem possibilidade de acesso ao consumo de luxo ou de consumo de bens que imitam os de luxo.
Se não enfrentarmos essas questões antropológicas fundamentais, novas propostas de sociedades socialistas ou pós-capitalistas ecologicamente sustentáveis não passarão de sonhos ou desejos românticos.
* Professor de pós-graduação em Ciências da Religião
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