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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Com o coração em dilúvio

Por Marcos Monteiro

Gn 7, 11-14


“No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites.
Nesse mesmo dia entraram no barco Noé, seus filhos Sem, cão e Jafé, sua mulher e as mulheres de seus filhos; eles, e todos os animais segundo as suas espécies, todo gado segundo as suas espécies, todos os répteis que rastejam sobre a terra, segundo as suas espécies, todos os pássaros, e tudo o que tem asa.”



Toda criança ocidental foi formada ouvindo o Livro dos Princípios, o Gênesis. Por isso, em nossa imagética existe um lugar paradisíaco, por aí. Mas também catástrofes cósmicas, diluvianas, nos espreitam.


O céu pode se romper e inundar nossa história, a qualquer momento, então, precisaremos da barca de Deus para escapar.


Javé é um Deus paciente, encantador e encantado com a humanidade. Mas paciência tem limite e em seus momentos de irritação, a vontade mesmo era acabar com tudo e com todos.


Aliás, um dia fez isso mesmo, livrando somente Noé, sua família, seus animais e o seu ambiente particular.


Vagaram, Noé, família, animais, répteis, pássaros, pelo interminável mar do dilúvio, por entre os destroços do mundo e da vida liquefeita.


Quando tudo isso iria acabar? No vôo de corvos e no ramo de oliveira no bico de uma pomba, os sinais da esperança: ainda conjugaremos o amor no futuro do presente.


E um dia a terra secou e todos saíram do barco para reconstruir o mundo.


Os nossos dilúvios de cada dia são assim mesmo. Mistura de mares, barcos e destroços, sensação de tempo presente interminável, junto a pequenos sinais de futuro.


Viver dentro de um barco não é lá essas coisas, mas, às vezes, quando vida e coração se tornam líquidos, precisamos aprender a navegar, ao sabor das ondas e dos ventos, dentro dos barcos possíveis.


Aliás, parece que o desafio é maior ainda. É preciso aprender a paciência de construir o barco, na espera da tempestade.


Há um excesso no dilúvio. Água demais, tempo demais, dores demais. Há uma escassez no barco. Pouco espaço, pouca alegria, pouca esperança, pouco a se fazer, sensação de porta fechada por mãos invisíveis.


Quando as mãos de Javé abrem, de repente, a porta da barca, o tempo é de correr pelo chão lavado, aspirando cheiros e respirando brisas.


Também é preciso, de modo sagaz e verdadeiro, ao mesmo tempo, chamar Javé para a festa e, ao sabor de carne assada, rever cuidadosamente significados e ouvir promessas de perdão. E então, juntos construir um mundo novo.

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