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terça-feira, 25 de março de 2014

O Cânon, o Credo, os Bispos e a Igreja Atual;

Por Levi Gabriel            

O século dois D.C. foi marcado pelo combate da igreja em relação às heresias que se espalhavam pelo mundo. Dentre estas heresias, as que mais se destacaram ameaçando a integridade do Evangelho foram: o gnosticismo, (que estava circulando através de textos assinados por falsos apóstolos), o montanismo, (que pregava a ideia de que a revelação ainda não estava completa. Deus ainda estaria transmitindo sua revelação ao homem), e a heresia ensinada por Marcião, (este dizia que nenhum escrito era inspirado por Deus).

Foi diante deste conflito que os chamados pais da igreja foram tomando decisões a fim de garantir a veracidade da fé, mantendo a sã doutrina. Isto foi possível pelo fato das igrejas locais manterem uma unidade mais concreta, preocupando-se umas com as outras.

A primeira destas decisões foi discernir a semelhança do que havia sido feito pelos judeus em relação ao Antigo Testamento, quais escritos dentre os que circulavam naquele tempo, eram inspirados por Deus.


 Assim utilizavam um critério relacionado ao aspecto externo (se o texto havia sido escrito por um apóstolo ou por alguém que havia estado com estes) e interno (a coerência com o restante das Escrituras, ou seja, a busca por uma harmonia com os outros livros).
            
Com este procedimento é possível perceber que diferente do conceito católico romano, a atribuição dos livros inspirados é um reconhecimento e não uma imposição feita pela igreja.
           
Este acontecimento que repercute até hoje contribuiu pontualmente para a saúde da igreja em seu compromisso com o verdadeiro evangelho.
           
Outra decisão feita pela igreja no combate às heresias foi à elaboração de credos, como por exemplo, o de Pedro: “Tu és o Cristo, o filho do Deus Vivo”.
          
O famoso Credo dos Apóstolos utilizado no primeiro século como uma confissão de fé para o batismo e que teve acréscimos durante o passar dos primeiros séculos é outro exemplo desta tentativa de perpetuar o que os cristãos consideravam inegociável na fé.
        
 Esta decisão evidentemente possuía um aspecto positivo e que deveria ser imitado pela igreja atual, manter a unidade em relação àquilo que é essencial no Evangelho. A declaração de autor desconhecido: “No essencial unidade, nas opiniões liberdade, em tudo o amor”, deveria permear o relacionamento dos cristãos pós-modernos.
           
O que se vê hoje em dia são pessoas incorrendo nos extremos. Ou buscam ter unidade em detrimento da verdade ou se dividem por causa de opiniões.

Todavia, se por um lado esta ideia do Credo possui um aspecto positivo, de outro ela incorre no perigo de ceder ao conceito cientifico modernista.

Devido a mentalidade cartesiana a igreja transformou a fé em conceito. Neste sentido pode-se ter pessoas que fazem afirmações corretas, sem, contudo terem um encontro genuíno com o Cristo Ressurreto. Pois o cristianismo é uma pessoa com quem o cristão é chamado a se relacionar.

Tanto que a confissão de fé ou o credo de um judeu era diferente daqueles estabelecidos pela igreja ocidental. Em Deuteronômio capítulo vinte e seis é narrado uma declaração que resgata a história de um sujeito com Deus. Isto, porque os judeus são especialistas em contar histórias, passando a tradição às gerações futuras através de narrativas.

Assim, embora a igreja deva estabelecer o essencial da fé ela não pode limitar o cristianismo a dogmas e conceitos.

Por fim, a Igreja em sua luta pela defesa do Evangelho seguia as decisões de homens sábios que buscavam analisar todas estas questões mencionadas anteriormente.

Desde a gênese da igreja houveram presbíteros encarregados de cuidar do ensino da Palavra, e o faziam através de um consenso nas decisões.

O grande problema nisto é que na busca por uma eficiência e rapidez nas decisões eclesiásticas foi sendo consolidada, (principalmente na igreja romana) a ideia de uma centralização de poder. E assim nasceu e se perpetuou o conceito do papado.

Embora a Igreja evangélica não possua papa, ela não escapa desta tentação do poder, especialmente pelo fato dela estar inserida em uma sociedade onde a lógica empresarial é impregnada.

Resultados rápidos são exigidos, a competitividade se encontra presente até mesmo entre as denominações. E assim, na ânsia do crescimento alguns vão optando por um modelo menos consensual e mais centralizador de liderança.

Neste sentido, é sempre bom buscar o equilíbrio não caindo nesta tentação do papado, mas tampouco em uma liderança extremamente burocrática em que se exigem reuniões intermináveis para tomar decisões das mais insignificantes, como que tipo de cor se pintará as paredes da instituição e outras coisas deste tipo.

Em suma, a igreja atual deve a semelhança dos primeiros cristãos estabelecer critérios para preservar o verdadeiro evangelho, especialmente em dias onde muitos falsos evangelhos têm sido pregados.   

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