Marcos Monteiro
“Felizes os puros de coração porque verão a Deus”. Mateus 5,8
Um coração puro não é um coração vazio de vícios, mas cheio de uma coisa só. Ser puro é não ser misturado, é desejar uma única coisa, ter uma única paixão, o Reino de Deus.
O caminho dos apaixonados é o caminho dos tão ocupados com o amado que não sobra tempo nem espaço para nada mais.
Ser corpo apaixonado é ver, ouvir, sentir, tocar e falar apaixonadamente. E pensar com o coração que, segundo Pascal, tem razões que a própria razão desconhece.
O caminho da pureza não é o caminho da economia de afetos ou da contenção dos desejos, mas o caminho da plenitude nas relações concretas.
Ter um coração puro é desejar intensamente o amor; ansiar plenamente a verdade; buscar intensamente a justiça e acariciar amorosamente a misericórdia.
Essa intensidade de paixão torna-se paixão intensa por Deus e por pessoas concretas. Corpo apaixonado por corpos, amando e sendo amado, tocando e sendo tocado, acariciando e sendo acariciado.
A fonte da fidelidade ao amado e à amada está na intensidade do amor e não na vigilância ascética. O amor à amada se estabelece como amor ao amor, multiplicando mil estratégias e caminhos de carinho e cumplicidade.
A ética que vai caminhando pelo caminho do desejo, mantém um coração pulsante e um corpo preparado para a inteireza da ação.
Procurar uma pureza de coração é estabelecer harmonia e integridade entre ser e parecer, sentir e pensar, querer e agir.
Os puros de coração são felizes porque verão a Deus. Deus se torna visível não na restrição, na proibição, no sorriso comedido, mas na abundância, na afirmação, na gargalhada incontida.
Caminhar pela justiça, pela verdade e pelo amor, em sua pureza completa, significa diminuir os espaços para a injustiça, para a mentira e para a indiferença seca.
Deixar o coração pulsar cheio de sangue, nos ritmos de uma vida que se esparrama gratuitamente, sem economizar sons e cores.
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