Texto: Lucas 16:19-31
Introdução: A maiorias dos comentaristas usa este texto para se referir as questões da pós-morte. No entanto quando Jesus o conta ele não tinha a finalidade de ensinar a respeito da natureza do outro mundo, mas de mostrar a necessidade do comportamento adequado nesta vida.
Eu creio que estas questões escatológicas são importantes para o cristão, mas percebo que quando existe uma grande ênfase nela há também uma forte tendência de perdermos a visão de serviço, trabalho, enfim de diaconia.
Podemos perceber isso em dois textos bíblicos: (Mateus 17:1-23 / 2 Tessalonicenses 3:10). Claro que o inverso também é possível.
Parece ser esse exatamente o pano de fundo da narrativa de Jesus, o capítulo quinze diz que os pecadores se aproximaram dele para ouvi-lo, então os fariseus começam a criticar Jesus por receber estes homens e comer com eles (o que era um escândalo para os religiosos da época). Isso desencadeou numa série de parábolas contadas por Jesus: (ovelha e dracma perdida e o filho pródigo). Jesus através das parábolas mostra como Deus se importa com os perdidos e deseja salva-los. No fim da parábola do filho pródigo Jesus denúncia a hipocrisia dos fariseus, que se achavam justos e não tinham compaixão pelo próximo, viviam uma espiritualidade alienada da história.
Não há como ser cheio do Espírito Santo e dizer ter comunhão com Deus se não há um desdobramento na vida do meu próximo (1 João 4:8, 20)
Terminada estas três Jesus conta aos seus discípulos a parábola do administrador astuto onde ensina sobre mordomia, usar aquilo que Deus nos confiou nas causas do Reino de Deus inclusive nosso dinheiro. Esta é uma forma de fazer as riquezas da injustiça (pois não sabemos a origem deste dinheiro, se há procedência é fruto de algum pecado) ter benefícios eternos. (Mateus 25: 31-46)
Jesus termina alertando sobre a grande influencia que as riquezas exercem sobre as pessoas por isso os discípulos deveriam se dedicar totalmente a Deus, não serem como os fariseus avarentos, sem compaixão pelos pobres, orgulhosos por sua própria justiça.
É interessante o fato de que os fariseus pensavam que sua riqueza era uma demonstração da sua piedade, que a pessoa rica era abençoada por Deus e o pobre amaldiçoado.
Elucidação: Em nossos dias temos visto grande parte da Igreja Evangélica com uma mensagem parecida com a dos judeus da sinagoga dos dias de Jesus. Uma mensagem que parece esmagar ainda mais os pobres. Pois estes já são colocados à margem pela nossa sociedade capitalista que vê na acumulação de riqueza e na ostentação do consumo o sentido último da vida
No entanto ao invés de sermos agentes de cura e libertação temos levado uma mensagem que tem adoecido ainda mais a estes. A teologia da prosperidade num primeiro momento é uma mensagem de esperança, pois promete muitas bênçãos como saúde e riqueza para aqueles que têm certo tipo de fé. No entanto quando estas promessas mirabolantes não se cumprem não pode haver reclamação, pois se não foram alcançadas é porque o sujeito não teve fé o suficiente.
Então o pobre é desprezado na sociedade e agora dentro das igrejas é apontado como incrédulo.
Precisamos entender que fomos colocados neste mundo para continuarmos aquilo que Cristo começou a fazer.
Lucas nos mostra isso no Evangelho (o que Cristo começou) e no livro de atos (o que Cristo continua a fazer pelo seu Espírito através da Igreja).
Este é nosso papel, não podemos ser coniventes com essa realidade se quisermos ser agentes de cura e libertação em nossa sociedade.
Independentemente se pregamos ou não essa teologia o fato é que tanto ela como a ideologia secular tem um grande poder de sedução no qual todos somos tentados a se amoldar. Por isso Jesus terminou dizendo aos seus discípulos sobre a influencia das riquezas na vida do homem e que por isso Deus deseja ser servido e adorado de maneira plena, na totalidade do nosso ser.
E servi-lo com todo nosso ser é andar na contramão da sociedade, é ser nas palavras do apóstolo Paulo aos romanos um “inconformado” com este século.
É agindo assim que seremos sal e luz nesta sociedade. Só quem rompeu com o egocentrismo pode fazer diferença.
Essas palavras fizeram com que os fariseus começassem a zombar de Jesus, então o Senhor conta o texto que acabamos de ler, os fariseus mais uma vez voltam ao cenário.
Neste texto Jesus faz um paralelo entre dois homens: um era muito rico o outro miseravelmente pobre, um vestia linho fino e púrpura o outro tem o corpo coberto de feridas, um fartava-se com banquetes todos os dias o outro espera comer das migalhas deste.
A grande denúncia neste texto é a omissão deste rico para com seu próximo e dos fariseus para com os pobres pecadores. Este episódio serve de alerta pra nós hoje a não cairmos em um farisaísmo semelhante sem compromisso com a vida.
Sobre isso que gostaria de refletir nesta noite com os irmãos:
Tema: Igreja, não se omita!
A ação diaconal do povo de Deus na sociedade.
“Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando”.
(Tg 4:17)
1. Responsabilidade e compromisso com o próximo
O texto que define isto melhor está em João 15:12;
O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
Qual o clímax deste amor de Jesus por nós?
O clímax deste amor é a cruz.
Este amor deve caracterizar o relacionamento dos discípulos. Por isso precisamos entender e conhecer este amor.
1 João 3:16: “Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós e nós devemos dar a nossa vida por nossos irmãos”.
Na cruz aprendemos duas coisas importantes para viver esta proposta de Jesus: Vicariedade e Sacrifício.
Vicariedade: A palavra “vicário”, de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, vem do latim “vicarius” e significa “o que faz às vezes de outro” ou “o que substitui outra coisa ou pessoa”.
Jesus assumiu na cruz nosso pecado, independente de nosso pecado ele nos amou.
Só a vicariedade possibilita-me a viver em comunidade, onde eu entendo que todos podem errar, não somos perfeitos, ainda estamos na “presença” do pecado.
Vicariedade é concordar viver com as conseqüências do pecado de outra pessoa, tendo em mente o exemplo de Cristo que assumiu as conseqüências do nosso pecado sobre si.
Por isso só há duas opções frente à ofensa: ficar amargurado, ou de maneira vicária perdoar o ofensor.
“O misericordioso empresta a honra própria ao decaído e toma sobre si a sua vergonha. Procura a companhia dos publicanos e pecadores, e suporta prazerosamente a vergonha de sua companhia”. Dietrich Bonhoeffer
Sacrifício: Renúncia voluntária a um bem ou a um direito. Ato de abnegação, inspirado por um veemente sentimento de amizade ou de amor. Privação, voluntária ou involuntária, de uma coisa digna de apreço e estima. Risco em que se põem os próprios interesses para interesse de alguém ou de alguma coisa.
Filipenses 2:5
Deus concede graça ao humilde
Somos convidados a seguir os passos de Jesus. Nossa vida cristã só é autêntica na cruz. Lá eu tenho consciência que morri para o meu “eu”.
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gálatas 3:20)
“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me”.
Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. (Mateus 16:24-25)
Este novo homem relaciona-se de uma nova maneira com seu próximo:
Isso me possibilita a obedecer os mandamentos recíprocos da palavra de Deus: (façam, perdoem, orem, suportem, etc.)
2.Como prático essa vicariedade e sacrifício?
John Stott escreve no seu livro “Cristianismo Equilibrado” que precisamos entender nosso próximo como um ser corpo-alma-social. Por isso preciso amá-lo em todas estas áreas da sua existência.
a) Corpo: Tiago 2:14-17 / 1 João 3:17-18
Precisamos entender isso como parte da nossa responsabilidade cristã, não pode haver dicotomia, tanto evangelismo como ação social andam juntos.
Vivemos em um país com um dos maiores índices de desigualdade social, há um grande abismo entre ricos e pobres, especialmente em nosso país. (20% mais ricos detêm 60% da economia enquanto os 20% mais pobres 3%).
Ronald Sider questiona se “temos permitido que os valores da nossa opulenta sociedade materialista moldem o nosso pensar e agir com relação aos pobres”.Sob qual perspectiva temos olhado para este quadro?
Lázaro: Deus me ajudou, me socorreu.
Vamos perceber nas Escrituras que essa sempre foi à vontade de Deus para com o pobre:
Yavéh no A.T.:
• Êxodo 23:11 (descanso da terra);
• Levi tico 19:10 / 23:22 (deixe parte da plantação para os pobres)
• Deuteronômio 15:11 (sejam generosos com o pobre)
• Salmo 82:3-4 (defendam o direito do pobre)
O grande princípio do ano do Jubileu (Lv 25) é que a terra pertence ao Senhor Deus.
Jesus mostra isto no seu ministério:
“O Senhor me deu o seu Espírito.
Ele me escolheu para levar boas notícias
aos pobres
e me enviou para anunciar a liberdade
aos presos,
dar vista aos cegos,
libertar os que estão sendo oprimidos
e anunciar que chegou o tempo
em que o Senhor salvará o seu povo.”
Ele se alegra pela revelação que Deus concede aos menos favorecidos:
Naquela ocasião Jesus disse:
- Ó Pai, Senhor do céu e da terra, eu te agradeço porque tens mostrado às pessoas sem instrução aquilo que escondeste dos sábios e dos instruídos! 26Sim, ó Pai, tu tiveste prazer em fazer isso. Lucas 11:25-26
E quando João Batista quis saber se ele era o Cristo Jesus disse aos discípulos dele:
Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo. 5Digam a ele que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e os pobres recebem o evangelho. 6E felizes são aqueles que não abandonam a sua fé em mim!
O Espírito Santo através da Igreja primitiva:
“Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência” (Gálatas 2:10).
Efésios 4:28 (o salário do trabalho é investido no socorro do necessitado)
Atos 2:45 (Os irmãos vendiam suas propriedades e a distribuição era segundo a necessidade)
Atos 4:34-35 (não havia necessitado entre eles)
Tanto em Atos 2:45 como 4:34 os verbos estão no imperfeito. Na língua grega o imperfeito indica uma ação continuada e repetida por um prolongado período. Sempre que houvesse necessidade os crentes vendiam suas casas para ajudar os necessitados entre eles.
Deus espera isso, não podemos nos omitir, pois a Bíblia faz uma séria advertência:
Ignorar o sofrimento e o clamor daqueles que sofrem;
“O que tapa o ouvido ao clamor do pobre
também clamará e não será ouvido”. (Pv 21:13)
Atrai o juízo de Deus em uma sociedade;
“Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. 50Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali.” (Ezequiel 16:49-50)
Indivíduos atraíram maldição para suas vidas por serem gananciosos:
• Judas Iscariotes;
• Ló;
Não era somente o cuidado com o corpo em Atos, mas principalmente promover Justiça Social, levando os valores do Reino de Deus pra dentro da sociedade.
b) Social: Efésios 1:10 “De tornar a congregar (convergir) em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”;
A Terra foi amaldiçoada por causa do pecado do homem. (Gên. 3:17) Esta é a causa dos sofrimentos, das enfermidades, problemas ambientais, econômicos, políticos, etc.
O plano inicial era um ambiente de harmonia, unidade, paz.
Hoje vemos um ambiente de divisão, ódio, os homens estão cada vez mais distantes uns dos outros se destruindo, destruindo nosso planeta.
Só o Evangelho é a ponte sobre o abismo entre as pessoas.
Abraão fala do grande abismo entre Lázaro e o rico, mas na verdade este abismo já existia em vida.
Famílias hoje estão divididas, os pais distantes dos filhos, maridos distantes de suas esposas, isso reflete em nossa sociedade secular. Somente Cristo proporciona esta reconciliação.
Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio. (Efésios 2: 14)
Precisamos ser agentes de cura e libertação:
• Grupos familiares
• Mecanismos que proporcionem a emancipação do ser humano e não a dependência.
Fico a pensar, que mudanças poderiam ocorrer na sociedade se, por exemplo, evangélicos advogados se reunissem para o aperfeiçoar as leis do país; se evangélicos engenheiros se reunissem para propor o jeito do Reino de construir cidades; se evangélicos jornalistas se reunissem para discutir e propor um novo jeito de tratar a notícia; se evangélicos empresários se reunissem para celebrar um pacto de ética; se evangélicos economistas e tributaristas desenvolvessem um projeto de reforma tributária? Que sugerir a professores, a donas de casa, a metalúrgicos, trabalhadores da construção civil e por aí vai? Se tão somente nos víssemos como instrumentos para a feitura da obra de Deus. Ah! Se a nossa visão acerca das boas obras fosse mais abrangente! Ah! Se os homens vissem as nossa boas obras! Certamente glorificariam ao Pai que está nos céus. Ariovaldo Ramos• Discernir os agentes do mal: injustiças, corrupção e ser voz profética.
c) Alma: “... a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou à palavra da reconciliação.” (2 Co 5:19)
Cristo veio salvar nossa alma do destino que merecíamos separação eterna de Deus.
De merecedores da ira, de escravos do pecado Cristo nos colocou em um lugar de honra, comemos da mesa do Rei, ele nos deu dignidade. (2 Samuel 9:10)
Mas Paulo diz mais, ele fala que Cristo nos confiou seu nome, sua mensagem.
6Depois desses sete dias, o Senhor Deus falou comigo assim:
17– Homem mortal, eu o estou pondo como vigia para a nação de Israel. Você entregará a eles os avisos que eu lhe der. 18Se eu anunciar que um homem mau vai morrer, e você não avisar esse homem para que pare de fazer o mal e assim salve a sua vida, ele morrerá como pecador, e você será o responsável pela morte dele. 19Se você avisar um homem mau, e ele não deixar de pecar, ele morrerá ainda pecador, mas você não morrerá.
20– Se um homem direito começar a fazer o mal, e eu o puser em uma situação perigosa, ele morrerá se você não o avisar. Ele morrerá por causa dos pecados dele, e eu não lembrarei do bem que ele fez. E você será responsável pela morte dele. 21Se você avisar um homem direito para que não peque, e, se ele der atenção a você e não pecar, então ele ficará vivo, e você também não morrerá. (Ezequiel 3:16-21)
“Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (1 Co 9:16)
Não podemos reter o tesouro a nós confiado!
• Perceber a realidade espiritual por traz disto – Batalha Espiritual
Intercessão:
Interceder significa literalmente “mediar”, significa fazer mediação.
Interceder é você se colocar no lugar do outro e pleitear, defender, a causa dele. (Moisés e Arão)
“Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei”. (Ez 22:30)
Omissão caracterizada pela falta de intercessão.
Quando oramos mostramos a Deus que estamos engajados na luta pela salvação da sociedade. (Jejum Igreja Rib. Preto)
Conclusão: “As portas do Inferno não prevalecerão contra a Igreja”.
Cristo nos convoca a sair da defensiva e assumir posição de ataque, posição de combate, declare guerra!
Ele nos capacitou e meus irmãos não há inferno que consiga resistir a ação do Espírito Santo através da Igreja!
Por isso meu apelo inicial nesta noite é o de assumir nosso chamado em Deus, e em segundo de levantarmos um clamor pela nossa sociedade.
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