O modelo norte americano de vida permeia a mente de centenas de líderes brasileiros que não conseguem separar a essência do Evangelho de Jesus dos ideais ianques, camuflados de piedade.
Historicamente isto tem trazido no Brasil uma intolerância e inflexibilidade para com qualquer tipo de proposta que venha divergir do modelo vivido e apresentado por estes.
Na década de sessenta, por exemplo, quando a América Latina estava fervilhando com a revolução cubana e foi financiado pelos Estados Unidos ditaduras em quase todas as nações que a compõe, vários pastores e bispos evangélicos, para não dizer a maioria ficaram ao lado dos militares. Muitos entregaram seus próprios irmãos da fé, simplesmente pelo fato destes optarem por outro modelo econômico¹.
É importante ressaltar que não se está apontando aqui o modelo socialista como ideal. De maneira nenhuma, pois além de reprimir (arbitrariamente) a liberdade do homem, o que evidentemente contradiz a proposta cristã, historicamente ele se mostrou vulnerável a corrupção humana diante do poder.
A questão que está sendo levantada é por que se faz tanto combate e barulho frente ao socialismo a ponto de entregar irmãos, considerando-os como hereges por sua opção econômica e não é feito o mesmo barulho diante dos favoráveis ao atual modelo propagador de princípios também contraditórios ao Evangelho?
Nesta neurose de conspiração socialista muitos históricos tem se levantado contra qualquer crítica ao modelo que impera. Como disse com muita propriedade Dom Hélder Câmara: “Se dou pão aos pobres, me chamam de santo, mas se pergunto por que eles não têm pão me chamam de comunista e subversivo ”.
Ora, é justamente esta atitude resistente dos históricos que os torna legitimadores do sistema, pois o fato de ficarem neutros (mesmo que de maneira inconsciente) os coloca do lado favorável a este.
Não há nada de errado no fato destes se oporem ao sistema de vertente marxista, mas desde que questionem drasticamente os males do capitalismo, e vivam de modo coerente ao Evangelho que condena o desejo de enriquecer, o egoísmo e a indiferença frente ao pobre.
Se a proposta de Jesus é avessa ao sistema deste mundo, o cristão não pode ser conivente com algo que tem provocado miséria por toda parte. Ele não pode de modo algum aceitar o discurso de que isto é um “mal necessário”. Ele deve rejeitar esta tendência ao individualismo indiferente à dor do próximo. Pois, não foi este o exemplo deixado pelo Jesus de Nazaré.
Weber em sua abordagem da ética dos
protestantes demonstra um equivoco na maneira com que estes (e muitos atuais)
compreendiam a testificação da salvação. Esta contemplava o sucesso financeiro.
Ele faz menção de John Wesley que revelava uma grande preocupação quanto aos
desdobramentos na vida dos cristãos de seu tempo. Estes após a experiência da
conversão absorviam um estilo de vida voltado ao trabalho a fim de glorificar a
Deus, visando acumular tesouros na eternidade. No entanto, rapidamente se
deixavam seduzir pelos fascínios da riqueza. Assim ensinava o pregador sobre o
dinheiro: “Ganhe o máximo que puder, poupe o máximo que puder...” e
concluiu: “Doe o máximo que puder” (WEBER, Max. 2004, p.
83).
E ainda afirmou em um de seus sermões:
“Todo
cristão que retém para si algo mais do que o necessário para a vida, vive em
negação aberta e constante para com o Senhor. Essa pessoa alcançou riquezas e o
fogo do inferno”.
(apud
SIDER.
1984. p.190)
O
próprio Wesley quando morreu não possuía recurso algum neste mundo, deixando apenas: duas colheres, uma chaleira de prata e um casaco velho, mas
também dezenas de milhares de vidas salvas. Pois o que caracteriza a semelhança de um
cristão com seu Deus é a capacidade no dar, é o amor em ação. João diz que Deus
amou o mundo de tal maneira que “deu seu filho” (João 3.16).
Por esta razão que Paulo lembra o ensino de Jesus: "É melhor dar do que receber". (Atos 20.35)
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¹ ARNS, P.; SOBEL, H.; WRIGHT, J. Projeto Brasil Nunca Mais. Disponível em: <http://bnmdigital.mpf.mp.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=BIB_03&pesq=Isaías+Sucasas>.
BETTO, Frei. Batismo de Sangue. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/verdade/resistencia/betto_batismo_de_sangue.pdf>.
[1] BOYER, Orlando. Heróis da Fé: Vinte homens extraordinários que incendiaram o mundo. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
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