Por Levi Gabriel
Respondeu Jesus: "Feliz é você, Simão,
filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado
por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus”.
Jesus respondeu a Pedro que sua confissão só havia sido possível
porque o Pai Celestial havia lhe revelado esta verdade. Que ele não constatou
que Jesus era o Cristo por ter uma faculdade mental elevada, pela sua
capacidade de observação.
Isso nos alerta para um grande perigo em que a Igreja incorreu
no período da Modernidade: o dogmatismo.
A Modernidade colocou a razão humana no centro da vida social.
Ela questionou a mentalidade hierárquica e patriarcal da Idade Média e considerou
como absoluto apenas aquilo que poderia ser verificado pelo método cientifico.
Neste sentido, tudo aquilo que não podia ser provado
cientificamente era relegado à subjetividade humana e, portanto não servia como
referencia ou padrão à sociedade. Não se admitia atribuir como verdade algo que
estava ligado a questões de fórum intimo.
Assim a Igreja caiu nesta arapuca moderna e buscava provar a
verdade cientificamente. Defendia com esmero os dogmas e se esqueceu de que a
verdade no cristianismo é essencialmente uma Pessoa.
É por esta razão que
predominava na Igreja em sua relação com o mundo o paradigma apologético. A
ideia de debater, de discutir, de tentar convencer pela lógica cartesiana que
Jesus Cristo é o Absoluto. O cristianismo se transformou na defesa de uma
ideologia, em um ensino sobre ética, em uma transmissão de códigos morais, etc.
Fato que levou muitos a terem uma “relação” com a Biblia, mas não com o Deus da
Biblia. A ideia era de que bastava repetir o texto de Romano 10.9, por exemplo,
que o sujeito estaria salvo. Pior ainda, bastava aplicar o método evangelístico
correto que a igreja experimentaria um crescimento estrondoso. Bastava
transmitir informações sobre valores como misericórdia, que o sujeito estaria
programado ou apto a ser misericordioso. Isto porque na Modernidade a realidade
é mecânica, descobrindo o problema X e aplicando o método Y alcançava-se a
solução.
O mais trágico é que ainda existe este tipo de mentalidade entre
os cristãos, fazendo com que muitos defendam a concepção moderna sob a
pretensão de estarem defendendo o Evangelho do Reino.
O teólogo Paulo Brabo em seu artigo “Pós-Modernidade e Proclamação” faz uma pergunta pertinente que nos
faz pensar sobre isso: “Onde estava a
Igreja que não acolheu os filhos desiludidos da Modernidade? Por que os hippies
não se voltaram para a fé cristã quando precisaram satisfazer o seu anseio por
uma espiritualidade real”.
O próprio Brabo responde dizendo que os cristãos haviam se
curvado no altar do Modernismo como já frisado acima. A fé cristã havia se tornado
moderna demais para cativar o homem pós-moderno. Todavia se a Igreja tivesse
apresentado a essência cristã, isto é a Pessoa de Jesus tinha tudo para cair na
graça da sociedade contemporânea. Por isso complementa Brabo:
“Uma pessoa pode ser
no máximo abraçada e experimentada, nunca explicada racionalmente”.
Foi esta a resposta de
Filipe a Natanael relatado em João capitulo primeiro:
Filipe achou
Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e
os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê.
João 1:45-46
Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê.
João 1:45-46
Jesus respondeu algo parecido às multidões que o questionaram sobre
a veracidade do seu ensino:
Se alguém decidir
fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por
mim mesmo.
Em
outras palavras, para o Evangelho ser verificado como verdadeiro, como
absoluto, ele precisa ser experimentado, provado. O pastor Éd Rene elucida isto
ao comentar que só sabemos se a água de uma cachoeira é refrescante, agradável
quando entramos nela, e não quando anotamos os seus atributos.
Este
conceito moderno precisa ser colocado em seu devido lugar. É evidente que nossa
fé é racional, que existem doutrinas corretas a serem observadas, todavia não
podemos jamais limitar o cristianismo a isto.
Se
assim fosse qualquer pessoa com uma boa hermenêutica poderia ter seu nome
escrito no Livro da Vida. E o contrário também seria verdadeiro: as pessoas
menos instruídas estariam privadas da salvação divina. Pois não é o mero
entendimento e concordância doutrinária, mas a revelação dada pelo Pai através
do seu Espirito que nos projeta numa relação com a Pessoa de Jesus.
É
o Espirito Santo e não a eficácia da nossa argumentação, que convence o mundo
do pecado, da justiça e do juízo, fazendo-o entregar-se ao Senhorio de Cristo.
Mais
do que nunca, é preciso fazer ressoar as palavras do salmista nesta era
pós-moderna:
“Provai, e vede
que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário