log

log

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A Comunidade da Revelação;


Por Levi Gabriel

Respondeu Jesus: "Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus”.

Jesus respondeu a Pedro que sua confissão só havia sido possível porque o Pai Celestial havia lhe revelado esta verdade. Que ele não constatou que Jesus era o Cristo por ter uma faculdade mental elevada, pela sua capacidade de observação.

Isso nos alerta para um grande perigo em que a Igreja incorreu no período da Modernidade: o dogmatismo.

A Modernidade colocou a razão humana no centro da vida social. Ela questionou a mentalidade hierárquica e patriarcal da Idade Média e considerou como absoluto apenas aquilo que poderia ser verificado pelo método cientifico.

Neste sentido, tudo aquilo que não podia ser provado cientificamente era relegado à subjetividade humana e, portanto não servia como referencia ou padrão à sociedade. Não se admitia atribuir como verdade algo que estava ligado a questões de fórum intimo.

Assim a Igreja caiu nesta arapuca moderna e buscava provar a verdade cientificamente. Defendia com esmero os dogmas e se esqueceu de que a verdade no cristianismo é essencialmente uma Pessoa. 

 É por esta razão que predominava na Igreja em sua relação com o mundo o paradigma apologético. A ideia de debater, de discutir, de tentar convencer pela lógica cartesiana que Jesus Cristo é o Absoluto. O cristianismo se transformou na defesa de uma ideologia, em um ensino sobre ética, em uma transmissão de códigos morais, etc. Fato que levou muitos a terem uma “relação” com a Biblia, mas não com o Deus da Biblia. A ideia era de que bastava repetir o texto de Romano 10.9, por exemplo, que o sujeito estaria salvo. Pior ainda, bastava aplicar o método evangelístico correto que a igreja experimentaria um crescimento estrondoso. Bastava transmitir informações sobre valores como misericórdia, que o sujeito estaria programado ou apto a ser misericordioso. Isto porque na Modernidade a realidade é mecânica, descobrindo o problema X e aplicando o método Y alcançava-se a solução.

O mais trágico é que ainda existe este tipo de mentalidade entre os cristãos, fazendo com que muitos defendam a concepção moderna sob a pretensão de estarem defendendo o Evangelho do Reino.

O teólogo Paulo Brabo em seu artigo “Pós-Modernidade e Proclamação” faz uma pergunta pertinente que nos faz pensar sobre isso: “Onde estava a Igreja que não acolheu os filhos desiludidos da Modernidade? Por que os hippies não se voltaram para a fé cristã quando precisaram satisfazer o seu anseio por uma espiritualidade real”.

O próprio Brabo responde dizendo que os cristãos haviam se curvado no altar do Modernismo como já frisado acima. A fé cristã havia se tornado moderna demais para cativar o homem pós-moderno. Todavia se a Igreja tivesse apresentado a essência cristã, isto é a Pessoa de Jesus tinha tudo para cair na graça da sociedade contemporânea. Por isso complementa Brabo:

“Uma pessoa pode ser no máximo abraçada e experimentada, nunca explicada racionalmente”.
 Foi esta a resposta de Filipe a Natanael relatado em João capitulo primeiro:

Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê.

João 1:45-46
Jesus respondeu algo parecido às multidões que o questionaram sobre a veracidade do seu ensino:

Se alguém decidir fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por mim mesmo.

Em outras palavras, para o Evangelho ser verificado como verdadeiro, como absoluto, ele precisa ser experimentado, provado. O pastor Éd Rene elucida isto ao comentar que só sabemos se a água de uma cachoeira é refrescante, agradável quando entramos nela, e não quando anotamos os seus atributos.

Este conceito moderno precisa ser colocado em seu devido lugar. É evidente que nossa fé é racional, que existem doutrinas corretas a serem observadas, todavia não podemos jamais limitar o cristianismo a isto.

Se assim fosse qualquer pessoa com uma boa hermenêutica poderia ter seu nome escrito no Livro da Vida. E o contrário também seria verdadeiro: as pessoas menos instruídas estariam privadas da salvação divina. Pois não é o mero entendimento e concordância doutrinária, mas a revelação dada pelo Pai através do seu Espirito que nos projeta numa relação com a Pessoa de Jesus.    

É o Espirito Santo e não a eficácia da nossa argumentação, que convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo, fazendo-o entregar-se ao Senhorio de Cristo.

Mais do que nunca, é preciso fazer ressoar as palavras do salmista nesta era pós-moderna:

“Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia”.


(Salmos 34:8)   

Nenhum comentário:

Postar um comentário